Órgão de comunicação privada

 A TVI é liderada por José Eduardo Moniz, que se dizia saber fazer televisão, mas com muito dinheiro, quando estava na RTP. O desafio na TVI era fazer televisão com pouco dinheiro e aparentemente conseguiu. A estação nunca teve orçamentos tão elevados como a SIC, embora num ou noutro caso eles tenham excedido o investimento. O percurso da TVI foi muito irregular: nasceu como uma televisão conservadora, de iniciativa católica; houve depois uma transição com o Roberto Carneiro, para uma televisão com inspiração cristã e comercial; de seguida passou pela SONAE por um período curto e de muita indefinição; finalmente entra a Media Capital e o José Eduardo Moniz. Tudo sucede depois do Big Brother (BB), que surgiu inesperadamente. A SIC recusou o projecto e a TVI resolveu investir nele umas centenas de milhares de contos. O programa foi um êxito tremendo, com audiências nunca antes vistas em Portugal e até as novelas do horário nobre beneficiam com a situação. Estabelece-se um sistema de vasos comunicantes em que o público que vê o BB, vê também as novelas portuguesas que se seguem. Mesmo as séries acabam por se tornar novelas graças à resposta do público. Este modelo fez com que a TVI se tornasse um canal especialista em ficção portuguesa, o que é muito importante para a indústria audiovisual do país. Na década de 90 criou-se uma pequena indústria do audiovisual. Investem-se hoje cerca de 30 a 40 milhões de contos a nível de produção nacional. Neste aspecto, a TVI é um canal de referência. Não a nível qualitativo, mas sim quantitativo da indústria. Digamos que a TVI está a cumprir o seu papel comercial em termos de televisão privada, enquanto a RTP não está a cumprir o seu papel ao nível da ficção histórica.

A TVI foi o segundo canal privado português a ser lançado depois do canal SIC, que começou as emissões cinco meses antes. Apesar de ter o nome Televisão Independente - TVI, teve como identidade inicial o número 4, dado ser o quarto canal em sinal aberto, sendo o 4 o único elemento do seu logótipo. Era detida por algumas instituições importantes ligadas à Igreja Católica como a Rádio Renascença, a Universidad Católica Portuguesa e a União das Misericórdias e por empresas de comunicação social como a Antena  Televisión, a Compagnie Luxembourgeoise de Télédiffusion, a SBS Broadcasting, a Yorkshire Television, a Sonae, para além de muitos outros meios de comunicação mais pequenos. Resultado da maioria accionista católica, a programação da TVI era feita de acordo com os valores cristãos. Até ao ano 2000, a TVI assumiu o papel de uma "alternativa" de serviço de radiodifusão televisiva, dedicando parte do seu tempo para públicos-alvo distintos, com a parte da manhã dedicada às donas-de-casa e idosos e a parte da tarde aos jovens. Nessa época, a TVI transmitiu muitos programas importados e raros momentos de produção nacional, ficando conhecida por emitir séries e filmes, como X-Files e Baywatch concursos como o O Jogo do Ganso, adaptado do formato espanhol da Antena 3, El Gran Juego de lá Oca. Fez ainda a contratação de nomes importantes da televisão em Portugal como Manuel Luís Goucha e Artur Albarrán, mas as audiências nunca atingiram os objectivos esperados fazendo a empresa entrar numa crise financeira. A partir do período entre 1999 e 2000, as audiências da TVI aumentaram, precisamente quando começou a apostar em programas de ficção nacional como "Jardins Proibidos". Com a conquista desses bons resultados a TVI aumentou e melhorou a sua oferta de novelas e séries portuguesas, registando inúmeros sucessos como "Anjo Selvagem", "Super Pai" e "Olhos de Água". A estação apostou também em programas infantis, como por exemplo "Batatoon", e em novos noticiários, para além de reality shows, iniciando esta geração com o "Big Brother".